7 de setembro de 2016

essa cena da vida

"diga a ela que quando eu beijo um amigo estou certo de ser como ele é"


dois toques de espaço entre o que eu quero falar e não é reprodução
muitos homens
eu não vou mais discutir com isso

e você
que poderia se chamar Saulo
mas rima

esse Estado
nossos ânimos mais cheios de sí
minha vontade de falar besteira aumentada
é infinita poesia regada de algum rock and roll

olha, a essência disso aqui reside no fato de que minhas palavras
adormecem
o que eu queria que
florescesse
ofegasse
e com a benção do movimento te digo
que não tem questão de ser uma mulher ou outra

somos todas

e a tua sociedade só tua

teus olhares proibidos

esse fôlego cínico

eu frágil

e forte.

tudo isso só pra escrever
que saco

3 de agosto de 2016

tenho escrito mal, o

Sinto saudade
Talvez te ame
Talvez faça alguma diferença o vacilante do seu manifestar

Você sabe que as varandas correm em tão paralelo aqui na frente que fica difícil pensar

Faz curvas

Vou lhe dizer da falta que faz esse silêncio preenchido de monções 
Ventos sazonais em geral alternados entre chuvas e secas

Olha, caro
Que poema ruim

Existe um querer aparecer
Só pela métrica
E todo um mal-me-quer da ética
Um foguinho doido
A falta de rima e tal

(O meu olhar e o mal)

Mas a saudade é coisa de amigos
É um vinho que podia descer fácil
Algum outro toque que desceria difícil
Sobretudo essa direção pulsante rumo ao nada

Cheia de calafrio e tesão no meio da estrada

13 de maio de 2016

vida pisa devagar meu coração cuidado é frágil

eu vou buscar aquela mesa chipandele na sua sala
antes que a gente se debruce
antes de que todo esse tesão em pó faça efeito

nem vamos lembrar daquele olhar sobre a multidão
ai sobre
ai sob
ai sem críticas
                                de preferência com você sem cueca

ou com aquela sua florida
com aquelas pernas altas
e antes que você duvide
esse poema não se desmente

sou e você SOB a cama
on demand
das minhas fantasias

vem cá preu escutar as suas

mas enquanto isso
tem um cochicho canalha sobre as minhas artimanhas
sobre os nossos insights pouco duvidosos
os encontros sem provas
sobre os suspenses
sobre os beijos suspensos
os toques incertos

estou falando do que é sensual
vem

e não

tudo bem se a gente continuar

nessa poeira pouca
grande
quase coceira
quase palavras baixas

uma língua

e a vontade

13 de maio de 2015

ROTA


Eu tô desistindo pouco a pouco. Não tem mais saída e escrevo para me desculpar um pouco por vender essa armadura que você emprestou tão carinhosamente. A grana é para uma passagem e uns cigarros. Eu desisti de lutar e vou voltar pra estrada.

Eu desisti dos cigarros e tô comprando uma nhá benta frutas vermelhas da marca mais cara. Para poder mesmo experimentar a marca mais cara. E depois de tomar o trem e me ver sem nada eu vou vender aquela nossa ideia de filme.

E vai virar um sucesso. E não vai dar pra dividir um direito sequer com você. Porque você arranjou uma mulher bem certinha, teve uma criança linda e ainda batalha pra ser algum tipo de artista que não é.

Enquanto eu ainda tentava conheci um cara que é artista de verdade. Ele me fez desistir bastante de tentar. Foi quando o mapa virou mais obra de arte. Mas eu não vou vender esse mapa não. Porque eu talvez ainda ame aquele cara. Porque talvez ele nunca tenha me amado.

Nessa grande missão de vencer a mim mesma parece que a fase não passa. Mas eu tô sempre ganhando vidas.

Mas eu tô desistindo pouco a pouco. Eu nunca gostei de maracujá e a próxima nhá benta vai ser justamente essa.

Da-marca-que-eu-bem-inventar.

10 de agosto de 2014

Enquanto eu bossa a gente flana no motel

Eu coça caso
Um monte de opção de casa pra alugar
Eu meio sem lugar pra morar
Você meio a se instalar

Enquanto eu fuço, foca
Nalgum farol nalgum mar
Um monte de pista pra dar
Enquanto eu finjo a gente forja
Um monte de música sua pra escutar

Um cronômetro no meio do nada a pausar
Pra gente beijar
Com tempo pra recomeçar

Uma poesia, dois motivos e um terceiro
Pro risco parar de brincar
De escrever e a gente riscar

26 de julho de 2014

De quando me apaixonei por um ator pornô

Sei que transformei parte da nossa história em contos eróticos, te tirei do ostracismo e fiz do Zeca um mito dessa mais nova sociedade transante. Mas eu nunca pensei que fosse me apaixonar.

É que o mercado exige, acima de tudo, postura e eu nunca apostei no jeito como você para. Essa quebrada, todo esse peso que você joga em cima da bacia. Essa tentativa desengonçada de ser ereto. Eu não tenho explicações para o que acontece no meu corpo quando você está a alguns metros de distância. Fico ainda mais confusa quando você resolve dançar.

Eu não sei como faz efeito. Não é o seu sorriso. Nenhum dos três cortes de cabelo que você decidiu experimentar desde que a gente se conheceu. Nada disso imprime melhor que os ombros largos do Astolfo, as entradas do Wagner ou o traquejo do Bruce. Mas eu fecho os olhos e não tem ninguém mais justo que você nos meus delírios de prazer carnal.

Hoje eu só queria dizer que eu gosto de você. Sem roupa. Cansado.  À procura do seu saco de dormir. Eu não passaria nem uma hora tentando achá-lo com você, mas a gente pode correr atrás de uma loja pra comprar... Eu também não vou pagar. Mas te dou ideias pra gente fazer uma grana e se nada der certo tudo o que eu mais queria era que você abrisse o jogo e me contasse quem é o Zeca por trás dessa fama de amor da minha vida.

Sem pressão. Fica aí. Eu fico aqui tanto tempo quanto você quiser que eu fique longe. Eu não preciso me fazer de forte quando a minha fortaleza é saber que eu não domino nada disso. Quando você passa eu olho, quando você olha de volta eu me inclino pra cumprimentar, quando você se inclina demais dá nessa dança. E você nem sabe dançar. Mas sabe o bastante pra eu me apaixonar.

21 de maio de 2014

Xoni: um estado. Um estatuto.

To numa leve hesitação. Pedindo paixão. Ouvindo Caetano e vendo o Zeca em pb. Descendo desembestada essa ladeira que sobe pra descer e quando peca e pega e roda e mete e paira.

Serve só pra flutuar. Pra virar poeira poética. O estado bobo da gente. Essa fantasia de membros dormentes. O balbuciar de palavras meio ditas; meio sem coragem de dizer. O encantamento entorpecente. O que hoje faz medo traduzir em paixão.

Estou numa constante. Sou a criança que pede mais uma vez. E outra. Eu eternizei esse instante e a complexa lógica do mundo boicota a sensação do detalhe. Vamos passar a vida inteira falando difícil pra falar mais e ficar perto um da boca do outro até que vai ser impossível não morrer pra gente mesmo. Aqui. Nesse beijo.

Nesse olhar. Nesse toque, talvez.

A sensação. A do detalhe. A que funciona em close-up. De olhos azuis. De narizes grandes. De furinhos ao redor da boca. De toque no pandeiro. De falar formal. De falar pedindo desculpas, feito falar mineiro. Feito gaúcho. Feito qualquer desses homens pelos quais eu me apaixonei.

Mas que seja bem diferente pra ser único. A gente se apaixona quando você ri de cabeça baixa. Pela cara de bom menino. Pelo jeito como se escora na porta dos fundos à espera de uma promessa de sexo casual em plena madrugada. Porque você é um pouquinho desse desengonçar com um quarto de parede laranja.

A gente já se apaixonou pelo signo da sua mãe; que é o mesmo que o meu. A sua habilidade de me apelidar com o nome de grandes divas. As suas olheiras. De calças caídas. De cigarro. Enrolando um baseado. Você de oclinhos e estudando. Fazendo ponte. De casaquinho de crochê da vovó. Jogando dama comigo na pracinha. Só.

E no escuro.

Com versos do Cartola. Sussurrando o proibido. Com tudo o que disse mais um mocinho bandido do Rubem Fonseca. Só a respiração.

Só paixão. Faz mal nenhum se apaixonar. Assim pequeno. Assim sem esperar.

Assim meio Zeca. Meio mela cueca. Meio lembrando de como era bom só gostar.



Q’o mal é saber nonde tudo isso vai dar.